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terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

BLOCO DO NÃO VIAJEI


Memórias de um carnaval em casa

Não sei o que é pior no processo de passar o carnaval na capital – é claro que esta capital não inclui a do Rio de Janeiro, a do Estado de São Paulo e muito, muito menos a da Bahia.

Antes do carnaval:
Todo mundo que você encontra, inclusive no MSN, te pergunta: E aí, onde você vai passar o Carnaval? E você responde: vou passar aqui mesmo. Ai a pessoa conta para onde ela vai, em qual escola ou bloco vai sair, com detalhes da viagem e todos os planos.
Então na sexta-feira que antecede ao sábado de carnaval, a cidade enlouquece. Parece que amanhecemos em outro país e que naquela sexta todo mundo é outra pessoa – uma “carnavalanda”. Todos estão a mil por hora e você vê malas por todo lado, gente correndo, olhando pro relógio, e comentando aquela ultima compra que falta fazer.
As portas das casas batem com pressa, pois já se anuncia a chegada de uma metamorfose que vai coroar cada um para a entrada do reino maravilhoso do carnaval.
Ufa! Todos já embarcaram e acabou a sexta... Amanhã, já que você não viajou, vai esquecer de carnaval. Pronto!

Durante o carnaval
Já de madrugada se você acordar sem sono e ligar a tv, será bombardeada por todas as informações possíveis relativas à data: congestionamentos quilométricos e as pessoas em festa (o único momento que vejo alguém festejando em congestionamento); cobertura de todas as cidades do país inclusive a de um bailezinho num clube bem pequeno; os comércios de bebidas agitadíssimos; últimos preparativos para o desfile das escolas de samba e suas respectivas madrinhas reluzentes, “boazudas”, com sorrisos que não cabem no rosto; previsão do tempo, e é claro, o carnaval em salvador que começou quase dia primeiro de janeiro.
Aí você dorme até mais tarde, pra aproveitar a manhã e quando acorda – numa capital que não tem carnaval – parece que você acordou no filme Eu sou a lenda, ou seja, só sobrou você no mundo!
Graças a Deus! Está chovendo! Imagina o sol gritando de tanto verão e você ai dentro de casa em dias de carnaval. Pelo menos isso...
Então você investe na comida. Come bastante e sem culpa. Afinal, algum prazer tem que ter.
Liga a tv rapidinho e não resiste em ver aquela alegoria linda de morrer daquela cantora baiana que arrebata multidões. Pronto! É melhor passar um canal alternativo tipo canal Brasil. Está passando um documentário sobre a história do samba no Brasil. Troca. Um outro de Notícias. A beleza dos filhos de Gandhi em Salvador. Outro. Os bonecos gigantes de Recife. Outro. Os Bailes de Carnaval do Copacabana Pallace. Outro. Os foliões nas cidades históricas de Minas. Outro. Ufa! Um canal de filmes que não fala de carnaval...Assim fica mais fácil desses quatro intermináveis dias passarem logo.
Pra mudar um pouco, você vai dar um “pulinho” na net. E lá, é claro, não tem ninguém, além daquele fanático por MSN que mesmo viajando deu jeitinho de ir numa lan-house e, coincidentemente, você o encontrou por lá.
Então entra naquele site legal, que tem umas bobeiras do universo feminino, que a gente ama e sempre promete navegar com calma quando tiver um tempinho sobrando. E as primeiras matérias são: “maquiagem de carnaval”, “dieta de carnaval”, “energia para os quatro dias de folia”, “crie você mesma a sua fantasia”...É mole?
Aí você, mesmo temendo a solidão das ruas, resolve sair um pouco pra comprar umas coisinhas no supermercado, afinal já é quase quarta e o seu estoque de bobagens para passar o carnaval sozinha, já esta quase terminando. Felizmente, ainda está chovendo, e você pensa com força: “Imagina eu, friorenta como sou, pular carnaval nessa chuva? Não ia nem poder passar um blushezinho...”
Acho que por hora, esse pensamento convenceu...E numa fração de segundos vem àquela lembrança do trio elétrico emitindo aquele ar quente, aquele som alto esquentando a gente e a chuva servindo de alívio para aquele calorzão............Sai pensamento, sai!
Saiu. Volta o pensamento para as compras. E volta logo pra casa pra não perceber a vazies dessa metrópole sugada pelo carnaval.
No ultimo dia antes do fim da festa você vai almoçar num restaurante, e? Fila de espera de trinta minutos aproximadamente. Um monte de gente que, como você, também não viajou. Tudo fica mais aceitável. E a cidade começa a voltar ao normal, os carros que tinha sido recollhidos do planeta terra começam a circular, as vozes das crianças aparecem, o bater das portas, alguém furando uma parede, a policia rodoviária começa falar das estatísticas que fecham o carnaval, sai os resultados das escolas de samba, as programações de tv voltam ao normal, sem corte e com documentários diversos.
Parece que acabou. Você so-bre-vi-veu!

Depois do carnaval
Na quinta-feira, para os que já voltaram e não foram aproveitar o melhor do Carnaval em Porto Seguro – quinta, sexta, sábado e domingos com as melhores bandas de Salvador - eis que surge a clássica pergunta: E aí, foi pra onde no carnaval?
Nesse caso existe 2 ocasiões:
1- Você responde que não viajou e explica resumidamente o motivo – porque a gente é assim, já vai logo explicando tudo independente do outro ter nos perguntado.
2- A pessoa nem ouve o que você respondeu – o que nesse caso é até melhor – e começa a contar cada momento maravilhoso de folia...conta tudo! Que dançou até torcer o pé, que bebeu todas, que conheceu o amor da sua vida, que viu aquele pop star de pertinho, que encontrou com fulano, ...E você louca pra acabar aquele momento-tortura... Se ela contar um pouco mais, você enfarta!

E durante mais uns dias, assim até a semana santa, você cumpre o doloroso dever de comunicar que não viajou no carnaval...

No próximo ano, se tudo der certo, vê se você planeja viajar no carnaval!

Julia